Por causa de coisas
diria coisas
mas para não haver coisas
se disser coisas
então não digo coisas
porque por causa de coisas
pode haver coisas e se disser
mais coisas
não digo coisa nenhuma e então
vai haver coisas.
Boa Noite.
Paulo Marrachinho soares
Porque me lembro, pois não poderia esquecer
Porque me lembro de ti, pois não poderia esquecer.Sentei me na beira do passeio, olhando a rua ; vieste sentar te a meu lado, olhaste me sem rodeios , toma, uma cerveja mais, este antro vai fechar, disseste, são 4 da manhã, para onde vamos agora, perguntaste.
Não sei, ao rio, suponho, ajudas me a afogar as mágoas, disse te então, dando te a mão.
Levantei me, abraçados, descemos as ruas pequenas, atravessámos a Graça e baixámos pela Sé.
descemos ao Campo das cebolas e atravessamos em direcção ao cais.
Então, disseste me, em voz alta e séria, com os olhos a brilhar, de alcool ou alegria,nem sei:
"Olha, olha para aquilo, ai estão as primas Gaivotas que esvoaçam na beira rio, olha, estas vão invadir Lisboa e comer as Pombas, olha, inveja que me dão, com as asas que abrem e voam, podem escapar, sem saber o que é a solidão, olha."
OLHA, disseste me alto, eu olhei.
olhei e vi te, voando, caindo ao rio, quis salvar-te, esqueci-me de afogar as mágoas e voei contigo, num banho de óleos e sei lá que mais de coisas e merdas que flutuavam no rio.
Sentados na beira, abracei o teu corpo magro, limpei a tua cara, chorei contigo, sentados na beira do rio, disse-te que jamais te abandonaria.
Sentados, menti-te com todas as forças que tinha, para que escrevesses algo mais, para que pudesses ter forças, vontades de viver, sobreviver ao teu destino.
Levantei-te e andá-mos até uma qualquer pensão, das que havia por ali, do outro lado do cais, e aluguei um quarto dos que usam as putas, tirei te a roupa, deixei-te adormecer, tomei um banho,vesti-me e fui para casa, deixei o quarto pago para o que faltava de dia.
Senti-me cansado e então subi as ruas pequenas, parei a tomar um café e apanhei o amarelinho 28, para voltar a descer as mesmas ruas e subir outras, voltei a casa,levantei me tarde , comi e voltei ao trabalho.
Era já noite quando voltei a subir as ruas que tanto gosto, pequenas, que não me deixam sentir só.
Entrei e não estavas, desiludi me.
Apareceste no bar já eram as 11 da noite , olhaste para mim e disses-te que fora contigo.Eu fui, eram as 4 da manha, sentei me na beira do passeio, olhando a rua,
vieste sentar te a meu lado e olhaste para mim, com umsorriso que nunca te tinha visto, perguntaste-me, para onde vamos agora?
Levantei-me e fui embora, olhei para trás e disse te:
" Eu, eu vou continuar a viver, e tu? Vens comigo?"
Não me respondes-te e desapareci no meio das ruas pequenas.
Não olhei para trás, não poderia voltar a mentir-te.
Jamais te abandonaria, se tivesses caminhado comigo, nunca poderia ficar contigo no destino que já tinhas escolhido.
Brilhante e genial, assim te via, escrevias, muito ou pouco, não sei, eu não queria o escritor fatalista, queria te a ti, apenas a ti, sem outro destino que fosse o de viver, como me ensinaste a fazer, mas sem conseguir fazê lo tu.
tenho saudades, lembro me de ti, pois não posso esquecer.
Paulo Marrachinho Soares
de Paulo Marrachinho Soares (Notas) - Quarta-feira, 30 de Maio de 2012 às 3:15
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