quinta-feira, 22 de agosto de 2024

sou feito de água e sal

Eu, sigo aqui, entre as ondas deste mar
No vento, no ar
Sigo aqui, no sol que te aquece
Nas mãos que te tocam
Em cada gesto, em cada olhar
Sou feito de tudo, de terra, fogo e ar
Sou feito de água e sal
Sou feito de água e sal
Sigo aqui, entre as árvores e os montes
Nos rios, cascatas e praias
Sou o fogo que arde sem parar
Sou o amor que te quero dar
Eu, sigo aqui, entre as ondas deste mar
Sou feito de água e sal
Estou aqui agora
Contigo na memória
Não posso esquecer, não quero, não quero esquecer
Seguirei em algum lugar, quando já não recordar, que sou feito de água e sal
Estarei em cada gesto, em cada olhar, recordarás que estive aqui, quando eu já não me lembrar.
Não quero máquinas, que me obriguem a respirar
Não quero químicos que me obriguem a estar
Quero ser, pertencer e estar, no teu colo
No teu abraço, entre as ondas do mar
Sou feito de água e sal
O mar, o mar é o meu lugar

terça-feira, 6 de agosto de 2024

Estilhaços

Na vida fazemos escolhas, gostamos de acreditar que vemos tudo com clareza.
Não é assim, temos momentos em que tudo se turva, tudo se estilhaça e custa ver o que temos à frente, decidir um rumo.
Pensámos que nunca nos vai acontecer, até que um dia, baixamos ou desviamos o olhar e quando voltamos a olhar em frente apenas vemos estilhaços, tudo se parte e sabemos que por mais que tentemos não podemos arranjar o que se parte.

Mas aquilo que posso dizer é que mesmo não tendo solução para o estilhaçado, podemos olhar de novo e vislumbrar o mundo para lá dos estilhaços, do partido.
Então percebemos que as vidas são assim, cruzamentos entre pessoas, promessas que se rompem, desilusão e ilusão.
Escolher é necessário para evitar o sofrimento, escolho ver para lá do turvo, do partido, o mundo segue ali, à espera de mim, apenas preciso dar mais passos, andar, mudar o rumo, a visão aos poucos será mais nítida, mais segura e tudo parecerá inteiro novamente dando a confiança e segurança que se precisa para seguir, com outro sorriso, outra alegria.
Até que se volte a estilhaçar a visão, restando a esperança de termos tempo de viver enquanto os estilhaços não chegam, para por fim nos rompermos nós também, num último suspiro.

Paulo Marrachinho

domingo, 4 de agosto de 2024

Em mim

Sei que sou diferente, não há forma de esconder. Não sou como tu, tu falas, emites som, eu percebo o que dizes, o que pensas. É complicado para ti, não consegues evitar pensar. 
Sei o que sentes, gostaria que tu pudesses fazer o mesmo, sentir como sou, 

Perto

Longe de mim, o sono, que espero chegue a qualquer momento.
Longe de mim o tempo de sentir que tudo está bem.

Perto, a poucos metros de mim, estás, sei, sinto, oiço quando respiras.

Imagino teu corpo, recordo o teu coração, o teu sorriso que era meu, o olhar, a boca e o sabor, teu, meu.
Confundi o espaço, o cérebro, o sentimento, não era igual ao meu.

Perto, estive perto de realizar o sonho, acordei antes de tempo, não terminei de sonhar, tudo se rompe, nada era meu,teu.
Falso brilho no olhar, sorriso que já não me ofereces, não sei o teu cheiro, nem a que sabe, a boca, tua, que alguém beija, que apenas me toca, de leve, ritual que me cansa, me lembra o que não tenho, o que perdi,o que desejo.

Sem poder escapar, aqui estou, nesta espera diária que me traz insónia, cada noite, espero o sono chegar.
Espero que voltes, que me faças sentir.

Espero, apenas isso, sem mais, porque sei que se vou, se acordo desta espera, não te verei jamais.

Espero, ainda não estou preparado para dormir, para acordar.

Insónia que me atordoa o pensar, que labirinto mental emocional.
Que cegueira me envolve, que escolho não ver, sabendo que sim, minto a mim mesmo e digo me que tenho sono, que vou dormir e amanhã será diferente.

Paulo Marrachinho Soares